top of page

Relato do Parto do Francisco


Quem já morou para essas bandas de cá sabe que Janeiro não é um mês de clima muito agradável. É frio, demaaaaais, a chance de neve é alta, o vento corta até a alma, e aquela chuvinha amiga ainda pode aparecer. Assim eu aguardava, não muito pacientemente, a chegada de Francisco. Já passada a trigésima sétima semana de gestação, o inchaço me incomodava muito, a mala do hospital na porta da sala, as vovós já estavam prontíssimas para toda e qualquer ajuda, roupas lavadas, berço comprado, enfim só faltava ele.Se você assiste seriados e filmes americanos sabe bem que vira e mexe aparecem umas dicas para ajudar bebês que gostam de ficar muito dentro da barriga. Passei a tentar o que se dizia. Segunda-feira caminhada, terça-feira subida e descida de escadas, quarta-feira sem muito exercício porém investimento pesado na pimenta. Na quarta a noite decidimos pedir pizza e um franguinho apimentado, comemos, fui pra cama e o Vini usualmente ficou no sofá. Deitei-me desconfortavelmente como qualquer grávida no fim do terceiro trimestre e adormeci. Por volta de uma da manhã acordei para ir ao banheiro e chamar o Vini pra cama, apenas comecei a me mexer e senti como se tivesse fazendo um xixi frio na cama, tentei segurar mas não consegui e demorei alguns segundos para me dar conta do que estava acontecendo. Minha bolsa tinha estourado, levantei-me e fui ao banheiro. Meu Deus, minha bolsa tinha estourado. Nem todas as mamães passam por essa emoção, então foi bem forte. Nesse momento eu tinha todo o direito do mundo de ficar nervosa, gritar, chorar de emoção, mas eu tinha que pensar como diria aos outros 3 (vovó 1, vovó 2 e Vini), sem assustar a casa toda. Desci calmamente, realmente estava calma, e avisei meu marido que arregalou os maiores olhos do mundo e tipicamente passou a andar para lá e para cá. Liguei para o hospital, expliquei, e uma midwife chamada Vanessa me disse pra ir ao hospital. Troquei de roupas, não tomei banho, não sei por que motivo não tomei um banho, acho que tinha certeza de que seria mandada de volta para casa, e fomos. A midwife checou a mim e ao Francisco e todos estávamos bem. Por volta de 3:30 da manhã fui admitida ao hospital, fiquei em um quarto e a cada 3 horas os batimentos do bebê seriam checados. Como a bolsa havia se rompido à 1:00 da manhã teríamos então que esperar 24 horas para que uma possível indução fosse feita. Nessa hora eu não sentia nada além de sono. Vini levou as vovós de volta para casa e retornou ao hospital. A quinta-feira foi um dia longo, até as 4:00 da tarde não senti praticamente nada, nada além de leves cólicas menstruais. Passei o dia tranquila, subi e desci as escadas do hospital várias vezes. Não era dessas loucas por um parto normal, mas como sabia que aqui funcionava dessa maneira, tentei me preparar da melhor maneira possível. Li os livros, entrei nos grupos de mãe, aplicativos no celular, sabia exatamente as possibilidades, possíveis complicações, etapas do trabalho de parto. Fiz um plano de parto, descrevi minhas preferências, e estava ali, esperando aquele momento. E o momento começou a chegar, a partir das 10:00 da noite as leves contrações passaram e ser mais fortes e longas, contudo ainda suportáveis. Uma prima/guia/anjo da guarda tinha me emprestado uma TENS MACHINE, que é basicamente um aparelho com alguns fios conectados a um adesivo que serve para amenizar a dor. Você gruda o adesivo nas costas e aperta o botão do aparelho e recebe pequenos choques, qualquer dia explico melhor como funciona. Enfim, essa maquininha foi essencial , me ajudou por horas, massageava minhas costas quando as dores começaram a apertar. E foi ai que eu me desesperei, até então estava calma o tempo todo, mas quando a dor passa a ser intensa e você sabe que tem muito mais pra vir, e que você é a única que pode fazer aquilo, o mundo meio que desaba. Chorei, chorei demais, chorei de medo, desespero. Eu estava preparada, mas muito assustada. Vini me acalmou, como sempre estava lá para mim, segurando a minha mão e dizendo que eu conseguiria. Já era quase uma da manhã e fiquei pronta para a indução. Uma midwife nova apareceu com tudo pronto e checou o progresso antes de começar o processo. Para minha surpresa eu já estava 2 cm dilatada e ela optou por não induzir e esperar que as coisas evoluíssem naturalmente. Fui transferida para a Delivery room, onde o efeito da TENS já não era de muita ajuda, e a midwife mais amável e querida do hospital (Tânia) cuidou de mim naquela noite, ela me ofereceu o famoso gás. Entonox foi meu companheiro por mais algumas horas, ele ajuda a acalmar, minimizar um pouco a dor e deixar a pessoa meio doidona por alguns segundos. Nesse ponto eu não marcava mais tempo ou frequência de contrações, sentia a mesma cólica menstrual, imensamente mais forte e frequente. Estava exausta, a segunda noite em claro, não havia dormido durante o dia e estava sentido dores a umas 8 horas, cedi e pedi a peridural. Tânia toda querida tentou convencer me a continuar naturalmente, neguei é claro. Esse nunca foi meu desejo e já li vários relatos de mamães que queria all natural e acabaram abrindo mão por conta da dor. Às 6:00 da manhã da sexta-feira fiz o pedido oficial, estava 6 cm dilatada, e as próximas 4 horas foram as mais longas de todo o trabalho de parto. Apenas um anestesista na maternidade e 9 cesarianas eram prioridade e só recebi minha peridural às 10:00 da manhã. Tania tinha ido embora e Zhila entrou no seu lugar, pobre Zhila, pegou o pior de mim. Durante toda gestação disse que não seria daquelas que gritam e fazem escândalos na sala de parto... tudo pros ares...gritei, urrei, chorei, fiquei paralisada por alguns segundos, suguei o gás como nunca. Quando finalmente o anestesista chegou, ainda teve que me explicar todas as consequências, às quais ouvi com muuuuita atenção. Sentei, tomei uma agulhada na espinha, deitei e dormi. A medicação aumentou para que a dilatação acelerasse, descansei por 2 horas, e por volta do meio dia e meio ouvi a frase que, por motivos diversos, achava que nunca fosse ouvir: You are fully dilated! Você está totalmente dilatada! A emoção foi grande, wow, era isso, agora era só empurrar, mas como por aqui nada é assim, tão rápido, Zhila me disse pra esperar mais 1 hora para estar recuperada e ter forças suficientes. As midwives mentem, ah como elas mentem, mas elas também são incríveis, Zhila me ensinou a empurrar, explicou como funcionaria, e as 15:30 começamos a empurrar. Vini foi meu grande companheiro, também estava exausto, queria uma cama e um banho, e mesmo assim me deu todo o suporte que precisei nesse momento. Às 16:18 Francisco veio ao mundo, cabeludo, e tão pequenininho. Meio perdida, muito cansada, mas com uma sensação de realização que jamais pensei que sentiria, penso naquele momento todos os dias para não esquecer dessa sensação e saber que se me preparar sou capaz de qualquer coisa.

Follow Us
  • Twitter Basic Black
  • Facebook Basic Black
  • Google+ Basic Black
Recent Posts
bottom of page